O desafio de mobilizar trabalhadores e pobres continua

Ano passado eu escrevi que é um desafio mobilizar trabalhadores de baixa-renda e pobres no Brasil.

Uma semana atrás (15 de maio), o Brasil viu alguns protestos contra a Copa do Mundo. Eu fui ao que aconteceu no Rio. A impressão que eu tive é que o desafio de mobilizar mais trabalhadores continua. E é um desafio difícil de vencer.

Semana passada eu fui ao Centro  do Rio para participar e observar o protesto contra a Copa do Mundo.

Eu queria ver como manifestantes (militantes partidários, representantes de sindicatos, ativistas, estudantes e trabalhadores em greve) se relacionariam com trabalhadores não-mobilizados.

Eu me perguntei: tem algum esforço maior para se aproximar de mais trabalhadores? Foi por isso que escolheram começar da Central do Brasil? Trabalhadores não-mobilizados têm dado mais apoio à protestos e greves?

A impressão que eu tive é que se mobilizar mais pessoas para apoiar as manifestações for um dos objetivos do movimento, então ainda tem muito a ser feito.

Era mais ou menos 17:30 quando eu cheguei ao lado da Central onde organizadores tinham marcado de se encontrar. Os manifestantes estavam animados: cantavam, gritavam palavras de ordem e sacudiam bandeiras.

Muitos deles filmavam e tiravam fotos deles mesmos e dos muitos policiais que cercavam o grupo (ainda em algumas centenas de pessoas que viriam a se tornar milhares mais tarde).

A imprensa (especialmente jornalistas estrangeiros) observavam o grupo também. Eles pareciam esperar o grupo crescer ou que acontecesse algo que fosse mais valioso como notícia.

Então, eu decidi me distanciar dos manifestantes e me aproximar do portão da Central do Brasil por onde passavam trabalhadores apressados depois de um longo dia de trabalho.

A maioria dos trabalhadores que vão à Central do Brasil pegam ônibus e trens para o norte do Rio ou Baixada Fluminense. A viagem deles dura pelo menos uma hora. É cansativo.

Como mobilizar essas pessoas? Como essas pessoas se sentem sobre os protestos? Do portão, eu vi três caras entregando panfletos aos trabalhadores. Alguns pegavam e liam. Outros pegavam e dobravam. Outros pegavam e jogavam fora. Pouquíssimos paravam.

Mas o problema principal pareceu estar em como as pessoas que passavam viam o protesto. Os distúrbios constantes na cidade causados por greves e protestos parecem estar cansando as pessoas. Elas também pareciam suspeitar quando viam bandeiras de partidos e de movimentos sociais.

Algumas pessoas também pareciam com medo dos possíveis confrontos entre manifestantes e policiais (o que não aconteceu naquela noite). O noticiário – que geralmente acusa greves e manifestações ao invés de explica-las – reforçou a atitude negativa contra o movimento.

Eu ouvi algumas pessoas enquanto elas corriam para dentro da Central:

“Só na época de eleicão, essa merda!”

“Vai ter palhacada aí hoje”

“Vai dar ruim! Isso aí vai dar ruim”

“Comeca assim. Depois a chapa esquenta”

 

Mais tarde, milhares de pessoas se reuniram e marcharam em direção à Prefeitura. Mas aqueles que marcharam eram pessoas que já se engajavam em alguma forma de luta política.

Conforme a marcha seguia pela Avenida Presidente Vargas escura e vazia, uma amiga e eu nos perguntávamos como o movimento poderia ser mais visível para outras pessoas.

As imagens nas capas dos jornais no dia seguinte ficaram bem bacanas. Mas e o apoio de pessoas não-engajadas nas ruas? Infelizmente, eu não consegui ver muito naquela noite. Na verdade, as pessoas pareciam desconfiadas e cansadas de protestos.

Quando o metrô fechou os portões por medo de conflitos, meus amigos e eu observamos a concentração de manifestantes na frente da prefeitura da distante escada para a estação.

Eu cheguei num cara perto de mim e perguntei no que ele achava que daria o protesto. “Pizza,” ele respondeu. “Essas pessoas gritam contra a Copa do Mundo aqui, mas eu tenho certeza que eles já têm os ingressos. Olha a cara deles”, ele explicou sugerindo que os manifestantes pareciam ter dinheiro.

Outro cara parecia ainda mais chateado. “Fecharam a estação!? Eu quero ir embora pra casa e não posso por causa desta merda agora?”, ele reclamou.

Logo os portões foram abertos e eu deixei o protesto junto com a multidão de trabalhadores cansados e chateados. Como uma pessoa que apoia várias formas de protestos e greves, eu admito que eu me senti meio assim-assim em relação às manifestações desde então.

Eu estou feliz por ver trabalhadores fazendo greves e lutando por seus direitos. Eu também estou feliz por ver pessoas demonstrando insatisfação sobre os impactos negativos dos mega-eventos.

Mas eu também fico triste porque essas ações parecem não convencer mais pessoas (especialmente trabalhadores de baixa-renda) de que vale a pena tomar as ruas e lutar por direitos e transformação social.

Por isso eu acredito que o desafio de mobilizar trabalhadores de baixa-renda continua. O maior problema é que não é só uma questão de trocar panfletos por alguma outra coisa. O buraco é muito mais embaixo.

Como convencer trabalhadores cansados de que vale a pena se juntar nas manifestações? Como compartilhar a paixão pela luta popular por uma sociedade mais justa? Como mudar a forma que protestos são percebidos pela sociedade?

Eu não sei.

Mas a persistência do desafio de mobilização me faz sentir muito mais animado com trabalhos de base pedagógicos e de diálogo do que com manifestações nas ruas.

Foto de Nathana Rebouças/Unsplash.