Desde que comecei a estudar na Finlândia, uma das coisas que mais me interessam é saber mais sobre a tradição de educação midiática nas escolas do país.
Mais maneiro ainda é olhar aqui no freezer do mundo e ver que metodologias promovidas no Brasil (muitas vezes desconhecidas do público em geral) representam exatamente o que os finlandeses entendem como processos pedagógicos eficazes.
É o caso do Cafuné na Laje, atividade coletiva desenvolvida na favela do Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Educação midiática (ou media education, em inglês) é o processo de ensinar alunos a ser críticos sobre o que leem/ouvem/veem na mídia. Além disso, os alunos aprendem a usar tecnologias disponíveis (e.x.: computadores, câmeras fotográficas, celulares e Internet) de forma consciente, criativa e até mesmo engajada politicamente.
A ideia de aprender sobre mídia e a usar mídia para agir como cidadão na sociedade é bem antiga. Em 1947, por exemplo, um padre usou uma rádio pra ensinar campesinos colombianos a ler. Nas décadas seguintes, várias outras ações foram desenvolvidas no mundo todo para promover cidadania através da comunicação.
Desde a década de 1970, a Finlândia desenvolve métodos e políticas públicas de educação midiática nas escolas do país. Com a popularização da Internet, ideias criativas e inovadoras para promover o pensamento crítico entre alunos alunos não só são bem-vindas como também são muito estimuladas.
No comecinho desse ano, por exemplo, um grupo de alunas da Universidade de Tampere conseguiu um financiamento da União Europeia para um projeto que promoveu o uso crítico da Internet entre crianças chamado “Internet Segura Juntos.”
A ideia do projeto era mobilizar uma competição de posteres, sites e vídeos entre crianças e jovens (9-24 anos) sobre usos seguros da Internet. O objetivo foi estimular a discussão sobre segurança online. Foi um sucesso!
Aí nesse momento você deve estar pensando: “isso é coisa de primeiro mundo! Já no Brasil…” E se eu te dissesse que no Brasil tem muita ideia bacana e inovadora em educação midiática também?
Neste caso, talvez a maior diferença entre Brasil e Finlândia esteja na vontade política de multiplicar ideias nas escolas do país.
Há anos, várias instituições desenvolvem metodologias e tentam promover políticas públicas de educação midiática pelo país. Tem departamentos universitários, como o Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP. Tem organizações não-governamentais como a BemTV (Niterói-RJ), Observatório de Favelas (RJ), CECIP (Nova Iguaçu, RJ) e tantas outras.
Além dessas instituições, coletivos formados por jovens da periferia também criam metodologias que fariam muito sucesso por aqui.
É o caso do Cafuné na Laje. O coletivo formado na favela do Jacarezinho, Zona Norte do Rio, usa brincadeiras e tecnologias disponíveis para promover o uso da criatividade e compartilhar conhecimento entre crianças da periferia do Rio.
Com tecnologias acessíveis (ex.: câmeras fotográficas, celulares, etc.), o Cafuné na Laje ensina crianças a produzir curtas e publica-los no Youtube. O roteiro é escrito coletivamente. Alguns dos vídeos (como o mais recente A Festa da Joana) foram produzidos a partir da leitura coletiva de textos literários. Tem vários vídeos muito bacanas no canal do Cafuné na Laje no Youtube. Vê só!
Nesse caso, pro Brasil ser parecido com a super-poderosa Finlândia, basta levar esse tipo de ideia pra cada vez mais escolas. Se tu gostou e acha que esse tipo de pedagogia em educação midiática é bacana, curte a página do Cafuné na Laje no Facebook, acompanhe os trabalhos e compartilhe os vídeos.
Quer fazer mais e não sabe como? Você pode sugerir à sua escola que convide o pessoal do Cafuné pra dar oficinas para os alunos e professores. Você pode ainda ir na secretaria de educação da sua cidade e sugerir educação midiática para o currículo educacional. Que tal?
– L.